quinta-feira, 17 de julho de 2014

Entrevista Rodrigo Lima (Dead Fish)




Em janeiro desse ano consegui via e-mail uma entrevista com o Rodrigo, vocalista do Dead Fish, para a quarta edição do Zine Manifesto. O zine impresso com a conversa já está rolando por aí há algum tempo, mas agora vocês podem conferi-la aqui no blog. Os assuntos como sempre envolvem política, manifestações e música. Confira!

Entrevista Rodrigo Lima (Dead Fish)
ZM: O Dead Fish está aí há mais de 20 anos, você já consegue analisar toda essa trajetória e ver os frutos de todo esse trabalho, no diy, para as próximas gerações?
Rodrigo: Não é possível prever nada ainda estando envolvido com a banda, teria que parar e ver de longe a coisa toda. Por enquanto temos a percepção que umas três gerações passaram na nossa frente, talvez mais.
Vimos o futuro passando na nossa frente, durante todos estes anos todas as cenas tem prols e contras. A de hoje tem tudo nas mãos mas parece nunca dar muito valor ao que tem, em contrapartida é mais generosa, mais aberta e mais informada.
ZM: Sobre política, você acha que as manifestações de Junho foram um despertar de uma geração, até então, apática? O que isso pode mudar em 2014, ano de agitação política, com copa do mundo e eleições?
Rodrigo: Não foi o despertar de nada, foi um ótimo começo e acho que pode dar em bons desdobramentos a médio prazo.
Temos um terreno e uma oportunidade única de fazer algo diferente do que foi feito nos últimos 514 anos de Brasil mas, não se pode prever nada. O brazuca médio e de qualquer classe é mais refratário e tolera mais do que a maioria dos sulamericanos. Vamos ver no que vai dar.
ZM: A direita pode se aproveitar de todo esse lance de manifestações e desagrado popular, aproveitar a despolitização e conservadorismo brasileiro e jogar mais um Collor, com uma boa retórica, no poder?
Rodrigo: Pode acontecer sim. Eles já se aproveitaram daquela finaleira de manifestações e passaram a insuflar uma patriotada meio boboca, sim...
Eu sinceramente acho que a Dilma leva esta a não ser que algo muito extremo aconteça. Não vejo nenhuma possibilidade de um PSDB paulista/mineiro conseguir algo falando o que fala e fazendo o que faz. Só em São Paulo mesmo que nego consegue gostar destas figuras fascistóides.
ZM: E como você vê o rumo da esquerda atualmente?
Rodrigo: O PT deu uma cagada em algumas diretrizes mas também ajudou a consolidar uma atitude mais de centro esquerda inédita nas políticas do país.
Sinceramente não sou um entusiasta de partidos estabelecidos de esquerda, não consigo mais acreditar no sistema eleitoral e não vejo como se implantar uma mudança substancial para todos por este meio.
Acredito mais nas micropolíticas das pequenas organizações que são mais horizontalizadas e menos inertes. A saída esta ai. Passe-livre, MTST, coletivo verdurada, Fora do Eixo (mesmo recebendo grana do Estado), jornalismo/blogs independentes, Ongs de defesa dos direitos humanos e animais, vegetarianismo, veganismo, blogs de humor, bicicletada, etc, etc...
ZM: Você acha que o hardcore perdeu seu lado politizado e questionador? Ou esse discurso está mais embasado em saudosismos e afins?
Rodrigo: Talvez... É chato este discurso de que em 90 ou em 80 era assim ou assado né? Eu também acho sacal mas, esta molecada que esta aí precisa saber o que se passou pra dar continuidade ou destruir de vez a coisa toda. Não se faz política no meio do punk sentado na frente de um computador ou discutindo em algum fórum, estes são meios.
ZM: Mudando para música e arte agora. Qual foi o disco que marcou sua vida? Existe um que você tenha um apego sentimental? Por que?
Rodrigo: Foram alguns, muitos... O primeiro se chama It takes a nation of million to hold us back do Public Enemy. Ganhei no tempo que o cd era revolucionário e o vinil desaparecia. Lembro de ter ouvido este álbum até ele quase furar... Me lembro da primeira vez que ouvi “California ubber alles” num campeonato de skate também e de ter levado quase dois anos pra conseguir meu primeiro álbum do Dead Kennedys.
ZM: O que você está lendo ultimamente? Quais livro indicaria, especialmente, para o público do dead fish?
Rodrigo: Estou lendo um livro sobre a cena punk/HC da Bay area de São Francisco nos EUA, se chama ”Gimme Something Better” interessantíssimo, conheço mais da metade das bandas que os caras falam ali. Comprei por indicação de um conhecido de lá numa loja de disco em Oakland.
Eu indico autores como Huxley, Hesse, Foucault, Camus, Miller, Marx, Deleuze, Kerouac, Borges, apesar de não ler mais com tanta frequência estes caras mas, são essenciais.
ZM: Já pensou em escrever um livro? Se sim, qual seria o tema??
Rodrigo: Já comecei dois e parei ambos no começo, tenho dificuldade brutal de me sentar e escrever, de estar calmo e centrando. Continuo tentando. Um dia sai. Eu tento escrever coisas mais ficcionais
ZM: E já que isso será publicado num fanzine, qual a grande diferença em relação às publicações de zines nos anos 90 para os dias hoje? E qual a importância de tê-los num mundo cada dia mais digital?
Rodrigo: Eu ainda gosto de ter o papel na mão, mesmo que soe anacrônico. Gosto de voltar ler de novo. Nunca me desfiz de um zine, mesmo que vire uma montoeira de papel num dado momento. Não sei se esta rapeize dá o valor que dou pra edições no papel, e nem sei se tem que dar o valor que dou também. O foda vai ser quando faltar luz pra sempre hahahaha.
ZM: Quais são os planos do dead fish para 2014? Cds, shows, dvds? Conte-nos!
Rodrigo: Quero finalizar o álbum que estamos planejando faz quatro anos mais ou menos. Estou botando minha energia nisso, talvez seja tudo que pense sobre a banda hoje. Depois eu queria fazer um filme ou um documentário, vamos ver...
ZM: Muito obrigado pela oportunidade da entrevista, espero que possa ter sido um canal de diálogo aberto e para finalizar, gostaria que deixasse uma mensagem pra quem ta lendo o zine. Valeu.

Rodrigo: Abraço. Sorte e sossego pra todos vocês ai. Obrigado pela oportunidade.