segunda-feira, 18 de março de 2013

Entrevista: Teu Pai Já sabe? Queer Punk de Curitiba


Nessa segunda entrevista que faço para o zine, escolhi a banda de queercore (Ramificação ligada a causa gay) TPJS de curitiba. A banda levanta temas como discriminação, homofobia e sexismo, tratados de forma muito bem humorada. Dessa vez a conversa foi com os integrantes Mamá e Felipe.

ZM: A banda surgiu levantando a bandeira do Queercore, que mesmo entre o meio punk libertário ainda não é muito conhecido. O que você acha que contribui para o queer não ser tão divulgado? Há muito preconceito nivelado nisso?

Mamá – André, hoje em dia se fala muito mais nisso sabe? Mas antigamente não. Conheci através de um zine chamado Out Punk, por alguns artigos do bikini kill, e outras bandas que eu fui conhecendo com o punk mesmo. Eu acho, que o fato de não ser tão conhecido no meio punk/hardcore, é que existem alguns preconceitos nele ainda como em todo canto, e muitxs pessoas que se identificam com o punk e são gays, lésbicas, queers num geral, acabam se sentindo um pouco na defensiva em um meio que deveria acolhê-la, entende? Eu mesmo acreditava estar num lugar mais seguro, em um espaço em que eu poderia me sentir confortável, mas não é bem assim que vejo. Então no meu caso, por exemplo, resolvi continuar nele, falando assuntos que precisam ser ouvidos e precisam ganhar visibilidade e respeito. Claro, isso não é um geral. Assim como tudo quanto é canto, existe muita gente legal que vale a pena. Infelizmente muitos irmãos e irmãs abandonam, procuram outros meios que sejam menos discriminatórios, e os façam se sentir melhor. Uma pena, né?

Felipe: Eu não sei. Nunca parei pra pensar sobre isso. Estou tão acostumado a buscar bandas desse gênero que, para mim, é engraçado pensar que exista quem não conheça ou não se interesse por elas. Mas pode ser sim que exista certo preconceito. Também pode ser uma espécie de medo ou desconforto, já que o queer vem questionar um monte de assuntos enraizados e bastante subjetivos, que envolvem gênero, sexualidade, corpos etc. Não deve ser fácil para o homem de cro-mags, que adora treta, questionar tudo isso.

ZM: Como foi a entrada de vocês no punk, e a relação da banda com o straight edge, que infelizmente e erroneamente, é visto como conservador?

Mamá – No meu ponto de vista, até foi bacana no meio que a gente conhece, com os amigos que temos. Mas sabemos que rolou muito bafafá, e comentário desnecessário também. Ok, sabíamos que ia causar tudo isso, mas foda-se, seguimos em frente. Eu era straight edge, hoje, não. Não faz sentido na minha vida, fez durante muitos anos, gostava e acreditava ser algo legal pra mim. Hoje não me identifico por diversos fatores, o que daria um livro aqui hahaha. Você disse tudo ali em cima, é visto como conservador, mas deveria ser bem diferente. Conheço muitxs sxes legais, dedicados, cuidadosos pra não passar essa idéia de conservadorismo, ou puritanismo que muitos mais passam por aí. Eu acho que o que fode é que criaram se várias ramificações, assim como no punk também, e assim cresceu essa onda enorme de sxe cristão, gangue, de tudo quanto é tipo, e isso me desagrada muito.

Felipe: Eu sempre fui dispensado das aulas de Educação Física, por causa de um problema que eu tinha no fêmur direito. Na oitava série, em 95, conheci uma menina que também era dispensada das aulas e ela foi uma espécie de mentora na minha entrada para o rock, vivia me entregando fitas K-7 gravadas com músicas dos Ratos de Porão, L7, Cólera, Garotos Podres, AC/DC e outras bandas. E depois, com o passar do tempo, eu fui me inteirando mais sobre as bandas, as ideias etc. Sobre o Straight Edge, acho que, com exceção do Hugo (baterista), o restante da banda passou um tempo sendo ou se identificando com as ideias dessa corrente. E eu acho que o sxe é como o punk no geral: tem muitas pessoas conservadoras no meio. Mas também tem muita gente bacana e tranquila e é com elas que eu prefiro me relacionar.

ZM: O Primeiro Cd Blasfêmia pouca é bobagem, tem letras muito bem humoradas, e no novo material “Agora sabe”, eu percebo uma mensagem mais direta ainda, com depoimentos sobre preconceito e política, teve algum motivo especial essa mudança?

Mamá – Então, engraçado como isso fluiu muito naturalmente, sabe? Acho que foi a vontade de todo mundo da banda mesmo. Sempre tivemos a idéia de que a banda seria divertida acima de tudo, que fizesse com que as pessoas, nos shows, se divertissem , cantassem juntxs, fizessem parte da banda, e isso acontece de fato, mas esse segundo trabalho eu acabei escrevendo letras mais sérias um pouco, vai ver foi o momento mesmo. E também porque acho que seria necessário escrever de forma um pouco menos engraçada, de repente surge mais efeito.

Felipe: Sim, nós também notamos essa mudança. A gente tentou manter o humor, colocando “Vá de Bike” e “Punk rock também é pra veado” no novo EP, assim como uns gritinhos do Sete Metros. Mas as músicas novas têm um tom menos engraçado mesmo. Não sei explicar a razão disso, mas posso dizer que foi natural, que não sentamos e resolvemos fazer dessa forma. Simplesmente aconteceu assim.

ZM: “Sinta-se a vontade ou não, fazemos parte dessa cena”. A banda incomoda muita gente de senso-comum, na cena?

Mamá – incomoda com certeza hahaha. Mas como diria o Paulo e o Pedro do Solange, to aberta! “se incomoda é porque estamos no caminho certo.”

Felipe: A gente já teve umas intriguinhas, sim, mas acho que todas restritas à Curitiba e a maior parte delas acontecendo apenas na internet. Nem vale a pena gastar energia com isso, em minha opinião.

ZM: Quais são as bandas de queercore na cena atual e quais influenciaram a banda?

Mamá – São tantas bandas, independente de serem queers ou não, muita coisa que gostamos acaba sendo um pouco de “TPJS?” No final das contas. Acho que cada banda que passa pela gente, toca com a gente, acaba influenciando de alguma forma. Cada um de nós escutamos coisas diferentes uns dos outros, acho bacana isso na banda. Acho que um consenso de todxs seria: Anti-Corpos, que vai além de apenas uma banda e sim grandes amigas que fizemos,Limp wrist, Gorilla Biscuits, Sugar Brown, Pansy Division, Rvivr, e por aí vai.

Felipe: Estamos sempre ouvindo algo que tem a ver com o queer, se não declaradamente, pelo menos que possui integrantes queers. Da minha parte, gosto do projeto “novo” dx J.D. Samson (ex-Le Tigre), MEN, que é muito legal. Também AMO uma kudurista angolana e transexual chamada Titica. Além disso, tem a banda Anti-Corpos, que a gente gosta muito não só pela música, mas pelas pessoas que a compõem, e em Goiânia teremos o prazer de tocar com uma rapper travesti que tem abalado geral, a Mademoiselle Lulu Mon'Amour.

ZM: Quais são os planos da banda pra 2013?

Mamá - Agora em março ficará pronto o nosso disquinho novo, em vinil, lançado pela No God No Masters, e queremos tentar tocar bastante depois disso. Vontade não falta, mas o tempo e a distância às vezes atrapalha muito pra que isso aconteça. Hoje eu moro em Maringá, o Hugo e o sete em Curitiba, e o Felipe em Sampa. Vai vendo!

Felipe: Por enquanto, estamos esperando o EP sair da fábrica. Agora, em março, tocaremos em São Paulo (dia 19) e em Brasília, Águas Lindas e Goiânia (feriado da páscoa), e estamos bem empolgados com isso. Depois disso, não sei. Como estamos espalhadas, divididos entre São Paulo, Maringá e Curitiba, fica difícil nos reunirmos para criar mais músicas e até ensaiar, então a gente vai meio que tocando a banda com o nosso ritmo, sem fazer grandes planos. Mas temos muita vontade de tocar no nordeste e adoraríamos que isso acontecesse ainda em 2013.

ZM: Tem algum coletivo, organização ou site sobre a causa que gostariam de passar?


Felipe: http://terrorbicha.tumblr.com http://funkcarioqueer.wordpress.com http://www.facebook.com/pages/Panteras-Rosa/167629923258311 .São esses que vem à cabeça, no momento. Vale a pena dar uma olhada na seleção de bandas que tocarão no festival Queers & Queens, que acontece durante os finais de semana de março, em São Paulo: http://queersandqueens.com.br Lá tem bastante nome legal para pesquisar e ouvir.

ZM: Finalizando... Espaço livre para deixar sua mensagem e os contatos e links da banda.

Mamá – André, muito obrigado mais uma vez por acreditar na gente, espera que tenha ficado do seu agrado. Pessoas apareçam nos shows, ajudem a fortalecer a cena local, dancem, cantem com a gente. Up the queerpunx!!!

Felipe: Quem quiser ouvir as músicas do novo EP do TPJS, pode acessar o nosso Bandcamp em http://teupaijasabe.bandcamp.com. Em breve liberaremos as últimas duas faixas do disquinho. Valeu!




sexta-feira, 1 de março de 2013

POR QUE FANZINE?



Como dito no Manifesto #1, foi a primeira vez que senti o lema diy (faça você mesmo) realmente vivo e ativo em mim. O resultado disso é maravilhoso. E ver as pessoas gostando e se interessando pela idéia de fazer zine, me estimulou a escrever essa matéria explicando: como surgiram os primeiros fanzines e qual o processo que faço para dar vida ao meu querido Manifesto.

Os primeiros zines, diferente do que muitos pensam, surgiram muito antes do movimento punk. Nos E.UA e Europa já eram muito utilizados. Claro que isso vem da necessidade de expressar idéias, sentimentos e tantas outras coisas mais. E só com uma opção alternativa, de investimentos reduzidos isso seria possível: ZINE!


Sniffin’ Glue (Cheirando Cola) é o nome do primeiro Fanzine punk, datado de setembro de 1976 e produzido por Mark P. O primeiro exemplar sai com 8 paginas e 200 cópias, em xérox. No numero 10 já é ‘’internacional’’, com 8.000 cópias, se tornando porta-voz de sua época. No Brasil, quando o punk explodiu por volta dos anos 80, eles tiveram sua vez, divulgando bandas, shows, e tudo que acontecia na cena.

Mas não resume somente a musica. Poesia, filosofia, política e quadrinhos também estão muito presentes. O zine antes de qualquer coisa é algo pessoal, que você tem a liberdade de colocar tudo que está presente dentro de você. A parte triste da historia é saber que com a modernização que a internet nos trouxe, os zines perderam muito espaço para o formato digital, que agora ao menos é um instrumento de divulgação muito forte. O Manifesto, por exemplo, atualmente é o único zine com circulação em toda a baixada santista. Espero que esse cenário mude e mais pessoas façam acontecer.
                                                                            
Eu, que desde os meus 14 anos estou envolvido nessa contra cultura, tive pouquíssimos zines. Coisa que seria muito diferente se eu estivesse presente na geração dos anos 80 e 90. E, quando decidi fazer o meu, fiquei perdido; sem saber por onde começar. É... e por onde começar? Bom, a resposta é simples. Você tem idéias. Comece sem medo de expô-las, e faça seus textos, desenhos e mensagens. Percebi que faço diferente do resto do pessoal que usa programas específicos e tals. Como não sabia fazer nada, eu uso desde paint até photoscape pra editar as imagens, sempre respeitando o padrão do zine que é 20x12, ou seja, uma folha de papel sulfite dobrada. Imprimo todas as imagens e textos. Recorto e colo de acordo com o que quero num ‘’zine modelo’’, que será xerocado frente e verso numa lan house, e dará muito trabalho para as moças que xerocam o verso ao contrario, às vezes pela metade e se estressam na nossa frente (tomara que elas não leiam isso). 


Depois de terminado, a sensação de estar com eles em mãos é maravilhosa, e o orgulho sobe as alturas. O grande lance de produzir um zine é o tanto que aprendo com isso, desde as entrevistas com as bandas, conhecendo outras ideologias e lutas e também toda uma pesquisa para produção dos textos. Tudo isso é de grande importância ate mesmo para minha evolução pessoal e intelectual, pois sempre tento estar informado, lendo e aprendendo a lidar com esse trabalho.